FELIPE MAIA

Journalist, ethnomusicologist, d.j.

I’m a Brazilian journalist and ethnomusicologist (anthropology + music + sound) based in Europe. In the past ten years, I’ve worked with a number of media outlets and led several projects crossing popular music and digital culture on topics like Latin American sounds, electronic-sonic technologies and Global South dialogs.
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[VICE] ​Fotos de franceses mais ou menos tristes após a derrota na Eurocopa

Minha memória mais viva do tétrico dia do 7 a 1 é flanar pelas ruas de São Paulo como barata tonta. Perder é ruim. Perder em uma competição de peso em casa é um coito interrompido. E você fica na mão sem saber o que fazer, pra onde ir, como terminar.

Nesse domingo, dois anos após nossa tragédia particular, os franceses passaram pelo mesmo purgatório — com menos humilhação. Vítima de um desconhecido Éder matador, a seleção francesa perdeu a Eurocopa 2016 para Portugal por 1 a 0.

O jogo foi no mesmo Stade de France onde Zidane acabou com o Brasil em 1998. Esse é outro trauma que guardo na cabeça, mas nem por isso sou antipático aos franceses. Na dor a gente se reconhece.

Por isso dei um rolê em Paris logo que o jogo acabou. Vi DJs tocando para pistas vazias, garçons varrendo calçadas com mais folhas de árvore que copos, gente que não sabia como voltar pra casa antes do amanhecer e lanchonetes de kebab sem fritas. Tristeza.

Mas também vi uma galera de bem com o que tinha acontecido. Portugueses — muitos de uma de uma geração que serviu de mão de obra de base na França, como foram os nordestinos em São Paulo — e franceses.

De bicicleta, pra provar que não estava tão tonto quanto os parisienses, passei pelos bairros de Menilmontant, République e Bastille. Um trajeto no norte-nordeste apinhado de bares da cidade que, mesmo na derrota, consegue festejar.

Esse senhor me chamou para dentro do bar em que ele estava. Ele queria porque queria que eu tocasse piano. Mas eu não sei tocar, disse a ele. Depois alguém apareceu e fez uma versão embromation de “Chega de Saudade”.

Essas são Margot e Luce, duas amigas minhas. A Margot não viu o gol de Portugal porque tinha ido ao banheiro e a Luce, que já morou no Brasil, tinha se irritado com o resultado do jogo, mas até que curtiu o fim de noite — especialmente quando achou essa privada na rua.

 

 

Esse cara estava tomando uma Coca-Cola com a estampa do Pogba e fez questão de posar pra foto — provavelmente porque queria fazer uma graça para as meninas ao fundo.

A Place de la République estava mais vazia que de costume, mas seus arredores estavam lotados de carros e parisienses desorientados se perguntando como terminar logo aquele misto de pesadelo e embriaguez.

Se alguém sabe curtir a vida, esse alguém é esse tiozinho. Ele se bastava com um cigarrinho, uma cerveja e um microsystem que tocava músicas como aquela bem bobinha do George Ezra.

Esse cara estava curtindo muito o som do microsystem do tiozinho, mas não gostou de ser fotografado.

Essa é uma das ruas nos arredores da Place de la Bastille, ponto de encontro comum para comemorações dos parisiense. Ontem ela parecia uma versão acima do Equador do cruzamento da Aspicuelta com a Mourato na Vila Madalena em São Paulo.

Esses dois estavam indo pra casa. Além dos motivos clássicos, um deles usava uma bandeira do País Basco — região limítrofe entre Espanha e França. Ele disse que estava se sentindo bem após a derrota. Em tempos de Brexit, todo sonho separatista é possível.

Esse cara tirou uma onda com o motoqueiro e saiu correndo. O motoqueiro estava meio puto com o trânsito e acelerou até que um líquido começou a vazar da moto seguido de muita fumaça.

Esse cara ficou ao menos cinco minutos no seu celular. Sozinho.

Esses caras estavam bem felizes.

Esse grupo estava andando há um bom tempo quando pararam para a foto. Um deles me perguntou se eu conhecia a Carol. Eu disse que o Brasil tinha muita gente.


Matéria originalmente publicada em julho de 2016 na VICE Brasil. Fotos por mim.

FELIPE MAIA

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