FELIPE MAIA

Journalist, ethnomusicologist, d.j.

I’m a Brazilian journalist and ethnomusicologist (anthropology + music + sound) based in Europe. In the past ten years, I’ve worked with a number of media outlets and led several projects crossing popular music and digital culture on topics like Latin American sounds, electronic-sonic technologies and Global South dialogs.
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[Trip] Entrevista: Friendly Fires

Friendly-Fires-by-Drew-Reynolds

Faz quase uma década que Ed MacFarlane dança como se não houvesse amanhã, ao menos às vistas do mundo. “Não posso dizer que sou um grande talento para a dança”, brinca ele em entrevista à Trip pouco antes de subir ao palco para mais um show no Brasil – o último da pequena turnê sob a bandeira do festival Meca.

O vocalista do Friendly Fires é conhecido pela sua performance peculiar no palco, mas há que se destacar o ritmo que embala o britânico. Na cozinha, o baterista Jack Savidge é vigoroso nas baquetadas, frequentemente acompanhadas de outra bateria e das paletadas rasgadas do guitarrista Edd Guibson.

O resultado anda a toque de pista de dança sem se enquadrar como música eletrônica, algo que deve se acentuar no próximo disco segundo MacFarlane. Seria uma aproximação ao premiado duo Daft Punk? Talvez no modus operandi. “Eu gosto da maneira como estamos fazendo nossa música: menos presos ao computador e tocando mais ao vivo”, diz o vocalista.

Vocês tem quase dez anos de banda. O que mudou desde o começo? Ed MacFarlane: Não sei. Acho que muita coisa muda de quando você tem 22 anos para quando você tem 29. Aquilo que é importante continua sendo importante, como fazer a música que gostamos de fazer. Seu gosto musical muda, seus ideais com música mudam, mas não creio que nossa vontade de fazer músicas interessantes tenha mudado.

No seu segundo disco, Pala, vocês deixaram claro que havia influências de ritmos latinos, especialmente do samba. Como isso aconteceu? Trabalhamos junto de uma bateria de escola de samba na gravação de “Kiss of Life”. Temos um amigo que coordena uma bateria dessas em Londres e gravamos com eles. Foi muito legal! Jack Savidge: A gente nunca quis fazer algo que fosse parecido com o samba tradicional. Apenas adicionamos isso a algumas das nossas faixas. São coisas que podíamos incorporar ao nosso som.

Algo parecido com samples? Jack: Em “Kiss of Life” nós realmente gravamos a percussão no estúdio. Fazemos músicas com samples também. Depende muito do que queremos fazer. Não gostamos de ficar só em um tipo de produção. Mas vocês gostam bastante de pensar a percussão, trazer ritmos diferentes. Vocês não usam apenas um instrumento, como um sintetizador. Ed: Não sou de usar um único aparelho ou instrumento. Eu gosto de muitos artistas que fazem tudo no Logic [software de produção musical]. Não sou um desses puristas dos meios analógicos que acham chato qualquer coisa eletrônica. Eu uso esses equipamentos, mas acho que o mais importante é o som que você quer.

Mas vocês tem influências de música eletrônica, como o house da década de 90, não? É. O Jack tem até um selo focado em house, o Deep Shit, mas, a meu ver, a gente não fica tentando reproduzir nada que foi feito antes. Temos nosso próprio estilo, nosso próprio som.

E qual é o som de vocês? Acho que eu não consigo descrever. É algo que acontece naturalmente segundo a maneira como compomos nossa música. Não ficamos pensando “queremos algo exatamente assim”. É mais uma vontade de fazer algo bom.

Algo tão natural quanto sua dança no palco? Sim! Não posso dizer que sou uma grande talento para a dança! [risos]

Faz dois anos que vocês lançaram seu último disco. Quais os planos de vocês para esse ano? Assim que voltarmos dessa turnê vamos entrar em estúdio com Mark Ralph, um produtor muito talentoso. Nós já temos músicas e temos algumas demos, o que é algo bem estranho. Nunca fomos uma banda de demos. Nós geralmente gravamos direto no computador, mas acho que essa será a abordagem do novo disco. Algo muito mais vivo e menos fechado. Ele está demorando porque não temos um talento nato com nossos instrumentos. Precisamos praticar sempre até deixar tudo perfeito. Existe uma tendência muito forte de gravar ideias no computador assim que elas acontecem em vez de deixá-las amadurecerem com o tempo. Dessa vez nós tentamos dar mais tempo a essas ideias.

O Daft Punk ganhou vários prêmios no Grammy e eles fazem música eletrônica sem soar que foi feita por aparelhos eletrônicos. É isso o que vocês fazem? Não, não. Acho razoável que o novo disco tenha ofuscado o que eles fizeram no passado. Eu gosto mais das coisas antigas deles, como Discovery e Homework, mas esse é o caminho da música deles. Eu gosto da maneira como estamos fazendo nossa música: menos presos ao computador e tocando mais ao vivo. É o que procuramos nesse novo álbum.

Tem uma data de lançamento para esse novo álbum? Não temos ainda. Não queremos apressar o lançamento desse disco. Queremos ter nosso tempo, mesmo se o público se distanciar do nosso som por causa da demora em mostrar novidades. Isso não importa se a música for boa o suficiente.

Mas vocês já tocaram músicas novas desse disco nessa turnê no Brasil? Não. Nenhuma. Não queremos que ninguém ouça essas músicas antes de estarem finalizadas.

Como tem sido a recepção do público nesses shows? O público brasileiro é incrível. Não tenho certeza absoluta, mas acho que temos uma conexão estranha com as pessoas daqui, talvez por causa do carnaval e dos ritmos.

Originalmente publicada no site da Trip.

FELIPE MAIA

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