[PEGN] Macron: uso de dados dos cidadãos está na raiz de problemas que vão do bullying à invasão de privacidade

Matéria originalmente publicada no site da Época Negócios como parte da cobertura da Viva Technology 2018, em maio de 2018.


Em um discurso tomado pela ideia de inovação tecnológica e legislativa, o presidente francês Emmanuel Macron abriu, nesta quinta-feira (24/05), o Viva Technology. O evento, sediado em Paris, na França, chega à terceira edição como um dos maiores do mundo voltados à inovação — ao lado do norte-americano SXSW e do português Web Summit.

É também a terceira vez que Macron comparece ao encontro. Em 2016, ainda na condição de ministro da economia, ele já dava pistas da sua postura empreendedora. Em 2017, subiu ao palco principal celebrado pela eleição recente. Hoje, o presidente deu um panorama presente e futuro de sua visão política em inovação e tecnologia.

“Juntos, vamos fazer da França uma porta de entrada da Europa para o sucesso da inovação tecnológica, para o bem de todos”, disse Macron. “Vamos fazer desse país um lugar para uma nova regulação, algo que precisamos e que vai unir tecnologia, pesquisadores, empreendedores, grandes empresas, investidores, todos.”

Ao posicionar seu país como líder global em inovação, Macron defendeu o que seria uma terceira via de desenvolvimento. “O modelo norte-americano não é mais sustentável, porque não há auditoria política, e o modelo chinês é supercentralizado”, diz ele, entremeando trechos em inglês e francês.

Os pilares dessa terceira via seriam um compromisso com educação para as novas demandas globais, uma política fiscal equilibrada e uma legislação sobre o uso de informações pessoais. Para ele, o uso de dados dos cidadãos está na raiz de problemas que vão do bullying à invasão de privacidade. “Pensar nisso é um trabalho do governo”, afirma. “Estamos criando uma soberania europeia para dados.”

O discurso foi respaldado pela cúpula Tech for Good, reunião que ocorreu nesta semana em Paris. Na sede presidencial, Macron recebeu executivos como Mark Zuckerberg, CEO do FacebookSatya Nadella, CEO da Microsoft, e Dara Khosrowshahi, CEO do Uber. O debate foi orientado pela atuação quanto a temas como educação, trabalho, inclusão e até inteligência artificial.

“Eu sou um grande otimista da tecnologia e esse país acredita em inovação. Mas isso não é suficiente: precisamos fazer o trabalho do governo”. Segundo Macron, dois bilhões de euros foram investidos em startups francesas em 2017. Isso teria favorecido o capital intelectual do país que, para o presidente, ainda é o maior atrativo a empresas de outros países. Somam-se a isso as mudanças na política fiscal e na legislação trabalhistas francesas. “Temos um tremendo ecossistema de startups”, afirma ele. “Este é o lugar para se estar.”Soberania francesa na África

Macron também enviou uma mensagem aos líderes da África presentes no evento. Pela primeira vez a Viva Technology dispõe do Africa Tech, um espaço dedicado a projetos inovadores de países como Marrocos, Togo, Nigéria, entre outros. “65 milhões de euros serão investidos no continente até o ano que vem”, diz o presidente francês.

Esse aporte é destinado a iniciativas locais que possam ter impacto global. Boa parte da população africana é jovem e, segundo Macron, isso estimula o desenvolvimento de novas práticas e tecnologias. Além disso, essa seria a melhor maneira de lutar contra problemas como o terrorismo. “A inovação tecnológica é a única maneira de vencer o medo e essa é a obrigação da França”.