[VICE] Um Papo Fanti Sobre o Hermes e Renato

 

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Franco Fanti, de azul. Crédito: Instragram do HeR.

Tem um episódio do Hermes e Renato que tira sarro de toda a cultura do funk carioca dos anos 90. Tem um outro que tira uma onda das igrejas evangélicas. Tem um que é pura escatologia. Tem um monte do Boça, o supra sumo do paulistano babaca. E tem aquela série do imortal Joselito aloprando a política em propagandas eleitorais. Tem também aquele programa de auditório sensacionalista. Tem mais um que nem esse. Tenho pra mim que o humor dos caras facilmente explica, além do deboche, muitas coisas da vida.

Outras coisas são difíceis de explicar. Aos 35 anos, Fausto Fanti foi encontrado morto em sua casa no dia 30 de julho de 2014. Fundador do grupo brasileiro de humor mais prolífico dos anos 2000 — o Hermes e Renato coleciona mais de dez temporadas na TV aberta, incontáveis personagens e um sem fim de bordões —, o humorista cometera suicídio confirmado dias depois por inquérito policial e por seu irmão, Franco Fanti. “Qualquer um pode ter depressão, passar por isso. (…) O caminho natural de uma pessoa depressiva é se suicidar”, me disse ele.

O Franco tem 33 anos, cinco filhos e já fez um ensaio nu. “Mentira!”, diz ele para duas dessas afirmações. Irmão mais novo do Fausto, o cara faz rir de graça. “Lembro que uma vez eu imitei um angolano para um angolano e o cara acreditou. A galera se cagou de rir. Eu tinha essa coisa.” Ele também tem os trejeitos do irmão — ou vice-versa. O riso meio preso, a cabeça meio de lado depois de uma piada bem-sucedida, o ar sério pro escárnio. “Eu e meu irmão sempre fomos muito debochados.” Quem consegue explicar essa?

Na nossa conversa, o Franco se preocupou em botar em pratos limpos temas caros a quem é fã do grupo. A saber: o Hermes e Renato continua mesmo após a ida do seu irmão com um canal no YouTube e com um programa de TV com estreia prevista para março no canal a cabo FX. “Ainda vai ser vanguarda, mesmo que a gente faça algo repetido, porque tem algo diferente de tudo que está sendo feito”, me contou ele, subvertendo o termo queridinho do elevado circuito das Belas Artes para um projeto tão sem noção quanto o dogão do Joselito.


O canal oficial do Hermes e Renato no YouTube.

Além da falta de limites, o Franco continua no grupo. O cara esteve com eles desde o começo, seja quando tudo não passava de brincadeira na casa deles em Petrópolis, seja escrevendo roteiros para quadros de sucesso da trupe. No papo, que rolou na lanchonete ao lado da antiga MTV, ele também falou do que mais vem pela frente, da relação com o irmão e de suas idas e vindas com o Hermes e Renato. Eu também tentei, mas tenho o Jornal Jornal como referência pra profissão e não consegui fugir à piada infame. Troquei uma ideia com o Franco na Real.

Você já fazia parte do Hermes e Renato antes mesmo de seu irmão morrer, certo?
Franco Fanti: Tudo começou em casa. Há muito tempo eu, meu irmão e o Adriano (o Joselito) estavam no início mesmo. Isso está naquele documentário. Até entrar pra MTV eu participava. Quando entrou na MTV eu fui morar em Nova York. Eu tinha voltado a escrever oficialmente pro grupo desde 2009. Eu vinha aqui, participava, dava ideia, mas nunca estive aqui. Esse ano foi a primeira vez que eu vim pra cá mesmo pra escrever com eles. Foi uma volta.

Sua participação então era com o roteiro?
Eu participava de algumas esquetes também. Fiz participações antigas e também nos 10 anos de MTV, vinha de bobeira mesmo, mas nada oficialmente. E escrevia porque estudei roteiro para cinema e desde então eu comecei a escrever oficialmente pro programa.

Quanto tempo você ficou fora?
Fiquei um ano e pouco. Fui pra morar fora com minha namorada à época.

Como era seu contato com os caras aquela época?
Todo mundo é amigo de infância, né. Meu irmão é meu irmão, o Adriano é meu vizinho de porta e o Felipinho estudou comigo. O Marco era mais amigo do meu irmão, estudou com ele, mas desde que vim pra São Paulo a gente se aproximou muito.

Quando você voltou para o Brasil?
No meio de 2003.

O Hermes e Renato tinha uns três anos de MTV. Como era sua relação com o grupo até essa época?
Não teve um acontecimento que tivesse me feito parar de participar do programa. Lembro que eu fiquei um pouco intimidado porque a gente fazia um negócio pra gente, de brincadeira. Quando teve equipe eu era muito novo. A gente foi regravar personagens que eu fazia e me posicionei para não fazer. Eu fazia a mulher do Renato, mas não queria fazer. Quando era só a gente eu ficava muito mais solto. E foi numa fase de adolescência, 16 anos, lembro vagamente desses pensamentos. Eu me senti incomodado e naturalmente fui saindo. Conheci essa minha namorada, queria morar fora, aí fui.

E quando você chegou ao Brasil?
Depois que eu voltei de Nova York, eu neguei meu lado artístico por muito tempo. Fui dar aula de línguas — estudei vários idiomas –, fui trabalhar com hotelaria. Neguei esse lado que tenho desde criança, mas era algo que não tinha como negar. Quando voltei, fui trabalhar em uma loja no Rio de Janeiro. Lembro que uma vez eu imitei um angolano para um angolano e o cara acreditou. A galera se cagou de rir. Eu tinha essa coisa. Eu fiquei magoado de não estar no grupo, mas não tinha motivo pra eu não estar lá. Simplesmente aconteceu, eu não resolvi isso dentro de mim. Eu varri pra dentro, nem pensei que eu tinha de fazer aquilo. Em 2007, depois de um tempo, eu comecei a estudar cinema. Me formei, escrevi três peças, dirigi uma peça e comecei a trabalhar com eles mais uma vez. Falei com meu irmão, mas ele me protegia muito. Eu sou mais novo. Ele era muito preocupado de eu vir pra cá e passar alguma dificuldade, de a MTV não ter condições de me pagar bem para eu estar aqui. O Hermes e Renato estava em cinco pessoas. Então quando eu voltei a escrever, foi mais um pagamento simbólico.

E como você se dava com seu irmão?
A gente nunca foi próximo de ser brotherzão de contar intimidades, mas a gente se entendia. A gente se perguntava das coisas e a gente não brigava mais como na adolescência. Esse ano eu busquei estar próximo dele, não vim pra cá somente pelo programa. E nossa relação melhorou muito. Eu sabia intimidades dele, ele as minhas. Eu estava morando com ele. Voltei pra São Paulo no início desse ano.

Pra participar do novo projeto?
Sim, meu irmão fez essa proposta de estar aqui escrevendo com eles. Na temporada passada tem vários roteiros que são só meus, mas ele queria que eu estivesse aqui com todo mundo. O Felipinho também tinha me dito isso ano passado e meu irmão veio com a proposta, mas para eu voltar como ator também. Aceitei, achei uma boa ideia e já tinha feito o piloto, coisas antes de meu irmão morrer. Tinha voltado já.

Como vocês enxergam a influência de vocês nessa geração de adolescentes dos anos 2000? Vocês eram moleques também, principalmente você.
Desde pequeno tudo foi se encaixando. Eu e meu irmão sempre fomos muito debochados. A gente sempre falava “caraca, olha essa mulher”, “e o cabelinho desse cara”, essas coisas. A gente criava situações, histórias, então foi natural. O nosso cunhado chegou com a câmera e puxou algo que a gente tinha naturalmente. A coisa da situação cômica, debochada. A gente é assim. E eu tive de redespertar o seguinte no grupo: somos muito privilegiados porque nos divertimos quando trabalhamos. A gente vai pensando, vai rindo, desde adolescente é assim. Todo mundo do grupo sempre teve isso. Tem uma coisa de afinidade entre nós.

O que os pais de vocês achavam?
Ela ria. Quando eles voltavam de viagem, eles viam a casa toda bagunçada, roupa fora do lugar. Mas ninguém botava tanta fé, nem eu mesmo. Acho que só meu irmão acreditava, por isso ele mandou a fita. Eu achava que era uma brincadeira.

Pergunto isso porque a relevância que vocês tem hoje é equivalente a grandes outros grupos de humor, como Os Trapalhões. Vocês nunca pensaram que fosse chegar aí, né?
Não. E essa situação do meu irmão foi importante para o grupo quanto a auto-estima. Deu pra perceber a proporção que tinha porque a gente não sabia. Ou melhor, a gente sabia, mas não sabia. A gente tinha e não tinha essa noção. Foi algo que fez a gente perceber claramente o quanto a gente influenciou e abriu portas pro humor no Brasil, influenciando uma geração inteira. Tudo tem influências, mas a gente criou uma linha do humor que é muito única. Só depois disso a gente tomou essa consciência. Isso é minha opinião. Eu mostrei pra eles as mensagens que eu recebi. As pessoas valorizaram mais, falaram mais disso. O grupo sempre foi meio alternativo, né? Sempre foi vanguarda. Quando se é vanguarda é difícil de virar superpopular.

Esse conflito existiu quando vocês foram pra Record, não? Um canal maior, mas em que talvez não fosse possível atuar como vanguarda.
Isso foi um aprendizado pra todo mundo perceber que nosso trabalho é muito autoral. Não que não tenha esquetes boas que as pessoas nem viram. O público mudou ali. Muita gente que acompanhava, não acompanhou. Deu pra criar coisas legais, apesar de ter perdido um pouco a liberdade. O humor como o nosso não pode perder tanto a liberdade.

Qual o humor de vocês?
É muito autoral. A gente satiriza tudo e todos, até a gente mesmo. Não só da TV. E meu irmão tinha a preocupação de sempre mudar isso, sempre fazer algo diferente. A gente fez novela, Tela Class, esquete de situação, esquete de sátira.

Tirar onda da própria MTV…
É, sim. Nessa temporada também tem isso. A gente vai fazer muitas esquetes nessa temporada. A gente tava pensando se ia ser uma linha mais de teatros, vários filmes, sempre pensando em mudar, fazer algo novo.

O que você pode adiantar pra gente dessa nova temporada?
Deve estrear provavelmente lá pra março, quando é a janela de estreia do canal. E vai ser uma colcha de retalhos com várias esquetes de várias coisas. Situação, sátira, quadros com personagens antigos e novos.

E como é trampar com um orçamento maior que o orçamento da MTV? Vai rolar ainda aqueles bonecos brancos, aquela roupa tosca de mulher pelada?
Isso é engraçado. Muitos fãs confundem o trabalho bem feito com a perda da verve do humor. E isso não se perde. Se você tem orçamento maior você faz as coisas com mais qualidade, mas a essência é a mesma. A gente gosta de fazer coisa bizarra, coisa tosca, aquela coisa de visual com sangue, escatologia. Isso não se perde, só vai ser mais bem feito. Continua tosco, mas ser bem filmado e bem produzido não exclui isso. As pessoas confundem as coisas, mas não perdemos nada.

E vocês já estão gravando?
Estamos gravando coisas pro canal do YouTube, gravamos um piloto — com meu irmão, inclusive — e gravamos vinhetas da Fox durante a Copa. Essa semana a gente vai voltar a gravar as últimas esquetes.

Vão ser quantos episódios?
Serão doze episódios, provavelmente a partir de março. Isso tudo quem define é a Fox. O programa terá 22 minutos, meia hora com intervalos. E tem o canal no YouTube também. A gente não era dono da marca, mas agora a gente é dono do nome e está trabalhando para conseguir o acervo que também não é nosso, é da MTV. A gente gravou, mas não é nosso. Por isso a gente não lançou DVD nem nada. A gente está trabalhando pra isso, além de produzir coisas exclusivamente pro canal. Vai ter um programa de entrevistas do Joselito. Mesmo coisas que a gente que já foram feitas, a gente faz de uma forma muito característica. É uma sacada muito específica. A gente pretende fazer um aquecimento com o FX.

O Boça e o Joselito continuam na série?
Continuam. O Documento Trololó também. E vai ter música. Isso é algo natural também. É nossa característica, tem um pouco de tudo. Os personagens do meu irmão a gente teve de reescrever porque não faz sentido.

E palavrão?
A gente estabeleceu que vão ter trinta palavrões por episódio.

Hahahahaha!
Mentira, pô, mais vai ter aí.

E o Jornal Jornal. Aquilo ali devia ser referência pra todo jornalista.
Tem as piadas infames, né. Isso vai continuar. As pessoas vão se surpreender com o nível que foi mantido mesmo sem irmão. Um nível que foi até superado, depende do que as pessoas vão achar. Está tudo muito bom. Muito bem produzido.

Vai ter alguma referência a ele?
Tem os quadros que ele fez. Coisas que foram gravadas com ele.

Como vai ficar o Hermes e Renato, a dupla?
O nome continua, mas ninguém vai fazer os personagens do meu irmão. Por mais que eu faça bem, e eu tenho confiança que tem muitas vertentes que eu sei fazer bem, acho que vai causar um estranhamento desnecessário. Vão acabar fazendo comparações, vão dizer que eu estou substituindo — e eu já estava no grupo —, mas alguns quadros não tem como. A gente ainda não sabe o que vai fazer.
Qual a principal influência que seu irmão deixa no trabalho de vocês daqui pra frente?
Meu irmão é um mestre. Ele ensinou muito pra eles e pra mim. Os princípios do grupo são muito fortes. A gente concorda numa linha de direção que meu irmão deixou. Isso segue. Todo mundo participava, mas ele direcionava. Ele falava se tal coisa era de mau gosto. A gente satiriza todo mundo, mas a gente não faz um ataque gratuito.

Algo que muita gente faz no humor hoje em dia.
É. E algo desnecessário, exagerado. Ele falava que não era de bom tom, não tinha esse tipo de ataque.

Em 15 anos de carreira eu não me lembro de grandes polêmicas em que vocês tenham se envolvido…
Até teve, mas meu irmão tinha esse cuidado de não chutar bêbado, como ele falava. Bater em quem é fraco. Tinha esse cuidado de não fazer uma piada agressiva desnecessariamente. A gente pode satirizar tal pessoa e tal quadro de um programa de uma maneira mais sutil, não de uma forma agressiva. Isso abriu portas para um humor mais polêmico e agressivo, mas vejo que as pessoas apelam pra um humor agressivo. Fazer polêmica mesmo.

Qual o papel do grupo nesses anos que estão por vir? Muitas coisas mudaram no humor. O Porta dos Fundos é o exemplo que todo mundo usa porque em dois anos os caras saíram da internet e foram pra TV, mas também tem essa febre do stand-up comedy. Aliás, um quadro muito bom de vocês é aquela do Dudu Marchiori. Enfim, como o humor de vocês se enquadra daqui pra frente?
Uma coisa legal do nosso humor é isso: a gente tem capacidade de fazer qualquer vertente, sem falsa humildade. A novela foi um exemplo disso, dramaturgia, dublagem, esquete de situação, etc. E a gente vai fazer coisa pra internet também, uma outra linguagem. O nosso trabalho ele tem renovação e continuidade. A gente continua sendo vanguarda, mesmo com algumas coisas repetidas. Algumas esquetes que a gente fez nessa temporada não são novidade, mas são muito características. É criar bordão, a gente sabe que isso influencia. E nossos fãs são muito fiéis. Quem gosta, gosta muito. Acompanha muito. Ainda vai ser vanguarda, mesmo que a gente faça algo repetido, porque tem algo diferente de tudo que está sendo feito. É muito característico.

Como você soube da morte do seu irmão? Você que o encontrou?
Não. Não tenho problema de falar disso, mas algumas pessoas tem uma curiosidade nisso e não acrescenta em nada. O que eu gosto de falar disso é o que todo mundo tem a aprender com essa história. Foi algo que foquei muito quando me abri naquele texto, a questão da depressão. E a confusão de achar que comediante não pode ter depressão porque o cara faz graça. Qualquer um pode ter depressão, passar por esse problema. Não tenho problema em falar sobre isso porque tem que quebrar esse tabu. Isso quebra o preconceito em relação a tudo que envolve o suicídio. O caminho natural de uma pessoa depressiva é se suicidar. Isso vai acontecer se a pessoa não se tratar. É natural. O mais importante disso tudo é o aprendizado que eu tive eu quis passar para outras pessoas. Muita gente veio me agradecer por isso. Tem muitas histórias de muita gente que me escreveu falando sobre isso.

E o que aconteceu logo em seguida? Quando soube, lembrei da morte do MCA, dos Beastie Boys. A banda acabou. Também achei que isso fosse acontecer com vocês.
É. Muita gente achou. Mas isso volta à sua questão do legado do meu irmão. Ele deixou um caminho muito claro que todo mundo concorda. Todo mundo vai ver duas coisas: como eu tenho a ver com tudo, como não sou uma pessoa estranha e como minha linguagem está encaixada ali, afinal, eu já fazia parte daquilo; e a importância daquilo pra gente, porque ali está a nossa vida, e a importância para os outros, porque recebi muita mensagem de gente falando que quando estava triste ia ver nossos vídeos. A gente percebeu tudo isso. Levar o riso é uma dádiva. Ganhar pra isso, então… É muito legal. A gente leva alegria pra muita gente. A gente entendeu tudo isso e, por mais que você saiba, é diferente de ter tanta gente te falando. Você me falou, assim como muita gente, que a gente influenciou o humor, a personalidade. Recebi muita mensagem assim. E pelo meu irmão também ficou claro que a gente tinha de fazer aquilo. Ele e a gente batalhamos muito pra chegar aqui.

Algo como o registro do luto.
Sim, houve também uma valorização maior.

Eu li seu texto no Facebook na ocasião da morte do seu irmão. Lá você fala da psicologia. Você também estudou psicologia?
Eu gosto muito, fazia terapia há um tempo. Voltei a fazer agora. Gosto de fazer, gosto de estudar também, perguntou pra minha psicóloga como é e como funciona. Minha relação é essa. Comecei a perceber que tinha alguma verve pra isso. Tem umas dez pessoas que estão com a mesma terapeuta que eu porque eu indiquei.

Bem, você está em São Paulo de vez?
Sim, estou aqui. Sinto falta do Rio, mas estou por aqui. Gosto daqui, acho foda esse lance de ser uma cidade grande, mas ao mesmo tempo é foda de ter tanta gente, tanto concreto, de ser tão opressora. A gente tenta fazer tudo aqui perto.

Vocês ainda gravam por aqui? Quando eu era moleque eu estudava na Lapa e corria o boato na escola de que vocês gravavam por ali.
Sim, um monte de coisa. O piloto foi ali.

Um dia eu peguei o elevador da MTV com uma camiseta do Massacration. Encontrei o Marco e comentei com ele sobre a volta pra MTV, essas coisas. Eles me pareciam ser caras bem fechados.
O Felipinho não é nada fechado! Meu irmão era, muito tímido também. Ele tinha dificuldade de se abrir com os amigos. Eu fiquei feliz de conseguir isso com ele. Ele era muito tímido e, apesar de algumas pessoas serem folgadas porque ele era humorista, nunca vi ele dando fora em alguém ou sendo mal-educado. Ele era respeitoso, simpático, solícito. Um bom exemplo pra mim. Aprendi muito com ele e isso fica.

Como fica sua família toda agora?
Eu morava com ele, então durante essa transição eu estou na casa dele com a esposa e a filha dele. Todo mundo está muito bem muito por conta do carinho dos fãs. As pessoas foram muito carinhosas em geral. Sempre tem um ou outro pela saco que fala merda, mas quem falou merda a galera detonava. Esse carinho deu pra gente uma noção de responsabilidade do nosso trabalho, da importância na vida das pessoas. E a gente não tem essa coisa de estrelismo, todo mundo é pé no chão. Superar você nunca supera uma situação dessas, mas você aprende a lidar com isso. E pela distância que aconteceu a gente está muito bem. A gente foi muito abençoado nesse sentido.

Você está com uma tatuagem de Santo Antônio?
São Tomé. Depois dessa situação toda eu queria me reconectar com o mundo espiritual. Já segui muitas linhas, tudo que você pode imaginar. Antes de meu irmão morrer, eu estava pensando nisso: mesmo que fosse alguma coisa dura, eu queria acreditar que a vida não era só aqui. Essa situação me fez eu me reconectar com o lado espiritual. Fiz essa tatuagem para me lembrar. São Tomé só acreditava vendo, tocando, né. Eu também comecei a acreditar mais. E essa aqui ele sempre quis fazer, então eu fiz pra me lembrar que tem muitas coisas que a gente precisa concretizar no grupo. Profissionalizar, ter uma loja, fazer cinema, fazer o canal de internet, concretizar tudo por nós e por ele. É um desenho que ele fez.É como uma árvore genealógica.

Então tá bom. Eu tô me segurando pra não soltar a piada do sejamos francos até agora.
Hahahaha! Todo mundo faz isso e acha que teve uma sacada genial!

Essa estrevista foi realizada originalmente para a VICE Brasil.

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