FELIPE MAIA

Journalist, ethnomusicologist, d.j.

I’m a Brazilian journalist and ethnomusicologist (anthropology + music + sound) based in Europe. In the past ten years, I’ve worked with a number of media outlets and led several projects crossing popular music and digital culture on topics like Latin American sounds, electronic-sonic technologies and Global South dialogs.
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[UOL Tab] Funkeiro MC WC repete feito e viraliza com música sobre o BBB

Matéria originalmente publicada no UOL Tab em fevereiro de 2020.


O letrista mais habilidoso do Big Brother Brasil não é a cantora Karol Conká, o rapper Projota, o poeta Lucas Koka, o sertanejo Rodolffo ou a funkeira Pocah. A julgar pela caneta veloz, o título vai para o MC WC. Ele nem faz parte do grupo que ocupa a casa da Globo, mas tornou-se um cronista afiado dos personagens emblemáticos do programa. O MC fez sucesso ano passado com as músicas “Tropa do Prior” e “Tropa do Babu” e esse ano repete o feito com “Calma Juliette” e “Vou Expulsar Karol Conká”.

De Nova Iguaçu — a mesma cidade carioca da ex-BBB Fani e da atual BBB Camilla de Lucas —, ele fala com a reportagem do Tab logo pela manhã. Era um dos poucos momentos de calma na rotina de produção musical, marido, pai de duas crianças pequenas e pay-per-view. “Eu comecei a assistir o BBB ano passado”, diz WC. “Eu sempre gostei de assistir, mas não tinha costume de assistir muito, só que de ano passado pra cá eu tô vendo pelo pay-per-view: almoçando e pay-per-view, jantando e pay-per-view, café e pay-per-view”.

Esse ano, ele confessa, não ia se meter a fazer música. Na época d’A Fazenda tinham lhe pedido canções, um “Tropa da Jojô”, vá lá. Nada feito. “Mas a Juliette, eu gostei dela desde o primeiro dia, aí fiz uma música!”, diz o MC. “Mermão, o bagulho virou uma febre.” Em menos de uma semana, “Calma Juliette” alcançou 200 mil visualizações em um único canal do YouTube, sem contar as replicações pela plataforma, as postagens no Twitter e todas as dancinhas no TikTok e no Instagram. 

A música foi parar na transmissão do BBB na Globo, cada vez mais alerta ao diálogo entre redes sociais e seu reality. Alguns dos fãs, do funkeiro e do programa, já conheciam a voz que canta “calma, Juliette, o cara só foi educado” — o cara é o ator Fiuk, que parecia ter encantado a jovem paraibana em poucas horas. Isso porque, em 2020, WC tinha ganhado algum destaque com a música “Tropa do Prior”. 

“Eu já era MC, mas não tinha empresário, não tinha verba, então eu tive que ser criativo, e o reality show foi uma forma de conseguir engajamento”, explica o artista. Como gostava do ator Babu, fez a música “Tropa do Babu”. O impacto não foi para tanto, mas deu fôlego para seguir adiante. A segunda tentativa teve como protagonista o fiel escudeiro do ator, o arquiteto Felipe Prior — atualmente réu em processo por acusação de estupro. 

“Tropa do Prior” bombou com um refrão que enaltecia as supostas habilidades de jogo do participante. Virou hit. O trajeto de ascensão teve o de sempre: milhões de compartilhamentos e vídeo com coreografia do Neymar. Ajudou também o alcance da vigésima edição do programa, transformada em final de Copa do Mundo por um país que começava a entrar no confinamento. “Eu recebo até hoje mensagens por causa dessa música”, diz WC. “E tem muitos fãs do Prior que me seguem.”

Tão típica quanto a escalada para o topo foi a chegada, no estouro da música, de empresários, agentes e toda a gente ao redor do MC. “Eu consegui a atenção que eu queria”, diz. Ele firmou contrato com uma produtora carioca, fez novas músicas, tentou emplacar outras faixas na pista. Não deu certo. Em meio à pandemia, sem palcos e sem shows, o jeito foi se agarrar ao sucesso e ao auxílio. “‘Tropa do Prior’ me segurou na pandemia”, conta o MC, contando o dinheiro que pingava dos acessos à sua canção. “E o auxílio, quando era 1.200 reais, ainda dava para segurar, mas depois…”

O BBB 21 era promessa de alívio para o artista. Mental, ao menos, já que ele não contava repetir o estouro de 2020. E deu o contrário: o MC voltou a fazer sucesso com uma música inspirada pelo programa, e o reality não se confirmou como entretenimento sem pretensão. Os debates que martelam à exaustão termos como “cancelamento” e os conflitos e embates psicológicos de alguns participantes deixaram o clima pesado até para quem está do outro lado da TV. MC WC não passou ileso.

“Imagine que o cancelamento é uma arma potente. Você vai liberar essa arma para qualquer um?”, questiona o artista. “Tem certos assuntos em que, sim, o cancelamento pode ser usado. Mas hoje em dia, qualquer coisa é cancelamento. As pessoas não ouvem o outro lado.”

Para ele, é questão de tempo até que a casa do BBB tenha seus lados, seus grupos. A análise continua: a dupla Rodolffo e Caio tem grandes chances de avançar na disputa, Sarah mostrou ter personalidade e Lucas, obliterado por grande parte do grupo, merece redenção. “Ninguém é perfeito, todo mundo erra”, diz o MC. “O que conta é se você está disposto a mudar.” 

Se o tema é Karol Conka, porém, não tem conversa — tem música. Assim como grande parte do público que vem se manifestando nas redes sociais, WC também tem a rapper como mais novo desafeto. Por isso fez música para ela. Em “Vou Expulsar Karol Conka”, ele canta para a artista: “Mete o pé agora e de brinde leva a Lumena”.

“Eu vou trabalhar mais essa música antes de lançar a versão completa, e já tem a da Juliette, que eu fiz de coração”, diz o MC, que sonha com um paredão protagonizado pelas duas participantes. Sem abusar do talento, ele promete não fazer mais músicas para o BBB. “Mas para o ano que vem, pode ter de novo.”

FELIPE MAIA

felipemf [at] gmail [dot] com

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